terça-feira, março 21, 2006

Bom dia da Poesia!

Enquanto me preparo para a sessão da tarde de "Ser Poeta", aqui na Biblioteca de Loulé Sophia de Mello Breyner, aqui fica um dos meus poemas preferidos, que um dia me serviu de resposta a um aluno que, provocatoriamente, me dizia que "os poetas são todos malucos, bêbados e drogados!".

Em linha de conta

Não se pensa o poema que se faz.

Faz-se um poema como se olha um pássaro que passa,

só porque passa e se olha. Mais nada.

De facto, nem é verdadeiramente o poeta

quem faz o poema. O poema existe independentemente

do poeta, existe por si próprio.

Serve-se do poeta apenas para que este o traduza

por símbolos

que todos possam finalmente entender.

Assim, o melhor poeta é aquele que traduz

melhor os símbolos.

O que dá aos outros o poema

alterando-lhes o menos possível as formas primeiras.

É claro que os poemas se servem de nós,

e nos enlouquecem,

porque nos mostram os outros caminhos.

Porque nos mostram das coisas uma face

de sombra.

Na verdade

Os poemas enlouquecem as pessoas por dentro.

E é por isso que os poetas são loucos:

porque são iguais, exactamente iguais,

ás outras pessoas.

José Carlos Barros

Otília Monteiro Fernandes