Enquanto me preparo para a sessão da tarde de "Ser Poeta", aqui na Biblioteca de Loulé Sophia de Mello Breyner, aqui fica um dos meus poemas preferidos, que um dia me serviu de resposta a um aluno que, provocatoriamente, me dizia que "os poetas são todos malucos, bêbados e drogados!".
Em linha de conta
Não se pensa o poema que se faz.
Faz-se um poema como se olha um pássaro que passa,
só porque passa e se olha. Mais nada.
De facto, nem é verdadeiramente o poeta
quem faz o poema. O poema existe independentemente
do poeta, existe por si próprio.
Serve-se do poeta apenas para que este o traduza
por símbolos
que todos possam finalmente entender.
Assim, o melhor poeta é aquele que traduz
melhor os símbolos.
O que dá aos outros o poema
alterando-lhes o menos possível as formas primeiras.
É claro que os poemas se servem de nós,
e nos enlouquecem,
porque nos mostram os outros caminhos.
Porque nos mostram das coisas uma face
de sombra.
Na verdade
Os poemas enlouquecem as pessoas por dentro.
E é por isso que os poetas são loucos:
porque são iguais, exactamente iguais,
ás outras pessoas.
José Carlos Barros
Otília Monteiro Fernandes