Poesias e outras bizarrias
A proposta é interessante: “Um programa de leitura de poesias e outras bizarrias. Autores célebres, esquecidos, autores deitados fora, estrangeiros, autores fáceis, difíceis, esquisitos, portugueses, complicados – são muitos e complexos os caminhos da poesia”.
A ideia é dos Artistas Unidos e é apresentada na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa. A próxima sessão é no dia 18 de Outubro, com João Meireles, Miguel Borges, Gonçalo Waddington e Américo Silva a lerem Alexandre O’Neill.
Estas sessões são sempre às terças-feiras, às 18h30.
Do nariz vai tirando alguns minutos
De abstração, alguns minutos
Do nariz para o chão
Ou colados sob o tampo da mesa
Onde o poeta é todo cotovelos
E espera um minuto de beleza.
Mas o poeta é aos novelos;
Mas o poeta já não tem a certeza
De segurar a musa, aquela
que tantas vezes, arrastou pelos cabelos...
A mosca Albertina, que ele domesticava,
Vem agora ao papel, como um inseto-insulto,
Mas fingindo que o poeta a esperava ...
Quase mulher e muito mosca,
Albertina quer o poeta para si,
Quer sem versos o poeta.
Por isso fica, mosca-mulher, por ali...
— Albertina!, deixa-me em paz, consente
Que eu falhe neste papel tão branco e insolente
Onde belo e ausente um verso eu sei que está!
— Albertina! eu quero um verso que não há!...
Conjugal, provocante, moreno e azulado,
O inseto levanta, revoluteia, desce
E, em lugar do verso que não aparece,
No papel se demora como um insulto alado.
E o poeta sai de chôfre, por uns tempos desalmado ...
Alexandre O’Neill
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home