segunda-feira, julho 25, 2005

Palavras Andarilhas com poesia



Já há programa (quase) definitivo das Palavras Andarilhas. Fichas de inscrição e afins aqui.

A Biblioteca e o fantasma



Cumprida a missão d'O Contador de Histórias na Feira do Livro de Tavira resta agradecer a todos os que tão bem nos receberam. Contamos voltar em breve, quando abrir ao público a nova Biblioteca Municipal, chamada de "Álvaro de Campos". Já fomos ver o exterior e o interior, está muito bem conseguida, os espaços têm muita luz e grandes manchas de cor laranja e preto, onde vivem as palavras do heterónimo que Pessoa fez nascer naquela terra algarvia. Será certamente um local onde não poderemos deixar de levar o novo espectáculo "As pessoas de Fernando". Esperemos que, por essa altura já não se ouça alguns menos informados dizer que acham mal "dar à Biblioteca o nome de um fantasma"...

terça-feira, julho 19, 2005

Siga a música

Pelas terras do veraneio tenho visto pouca televisão, noticiários muito menos. Mas estava a ouvir a TSF ainda há pouco e percebi que tudo vai na mesma. E (não sei porquê) só me apeteceu escutar uma música do Sérgio Godinho. É de 1971...

O charlatão

Numa rua de má fama
faz negócio um charlatão
vende perfumes de lama
anéis d'ouro a um tostão
enriquece o charlatão

No beco mal afamado
as mulheres não têm marido
um está preso, outro é soldado
um está morto e outro f'rido
e outro em França anda perdido

É entrar, senhorias
a ver o que cá se lavra
sete ratos, três enguias
uma cabra abracadabra

Na ruela de má fama
o charlatão vive à larga
chegam-lhe toda a semana
em camionetas de carga
rezas doces, paga amarga

No beco dos mal-fadados
os catraios passam fome
têm os dentes enterrados
no pão que ninguém mais come
os catraios passam fome

(É entrar,...)

Na travessa dos defuntos
charlatões e charlatonas
discutem dos seus assuntos
repartem-s'em quatro zonas
instalados em poltronas

Pr'á rua saem toupeiras
entra o frio nos buracos
dorme a gente nas soleiras
das casas feitas em cacos
em troca d'alguns patacos

(É entrar,...)

Entre a rua e o país
vai o passo dum anão
vai o rei que ninguém quis
vai o tiro dum canhão
e o trono é do charlatão

(É entrar,...)

É entrar, senhorias
É entrar, senhorias
É entrar, senho...

Letra de Sérgio Godinho
Música de José Mário Branco
Os Sobreviventes - 1971

sábado, julho 16, 2005

A sul



Uma das boas coisas de trabalhar de noite é poder desfrutar o dia... E estar em Tavira em horário nocturno dá para ir até à praia de manhã e almoçar na pizzaria Casavostra, em Almancil. A qualidade é a mesma da versão lisboeta, se bem que em S. Apolónia não haja uma hortinha de onde vêm a rúcola, o manjericão. Uma delícia em vários sentidos...

sexta-feira, julho 15, 2005

O libertino



CARTA A FÁTIMA

Lembras-te Fátima? era o que eu sempre te dizia, não somos nada nas mãos do acaso, e não há mais filosofia do que esta: deixar andar, tanto faz, hoje ou amanhã morremos todos, daqui a cem anos que importância tem isto, quem se lembrará de nós? quem se lembrará de mim? se nem tu já te lembras de mim agora, tu, a quem tanto amei, não te lembras, e foi há tão pouco, foi ontem, parece, que te levantaste e disseste: «Ficamos amigos como dantes»... E dizias: como dantes e era já noutro que pensavas, olhavas-me e nos teus olhos ria-se a traição, o prazer da liberdade, um desafio alegre, uma alegria provocante e desapiedada, ias a meu lado pela última vez e eu era já um estranho para ti, um fantasma a quem se concede, por caridade, uns momentos mais de companhia, algumas palavras vagas distraídas, um pouco de estima, talvez. Reparei: o teu corpo, oh corpo do meu prazer! oh carne virgem sangrando debaixo de mim! oh meu repouso e minha febre! o teu corpo outrora tão cativo e tão submisso, ficara de repente cerimonioso e esquivo, cauteloso, afastado, com um pudor forçado no puxares a saia sobre os joelhos, como se tivesse uma grande vergonha do despudor com que se dera antes...

Dizias: como dantes e não era já nisso que pensavas, e não era já para mim que falavas, eu era uma coisa para esquecer, para deitar fora, uma coisa que se abandona caída no chão e se perde sem pena. Dizias: «adeus» e saías da minha vida com um aperto de mão desembaraçado, quase cordial um gesto de boa camarada, como se nada tivesse havido antes, como se não tivéssemos sido tantas vezes na cama, um dentro do outro, um no outro, um-outro diferente, uma coisa sublime: Deus Criador, como os míseros humanos só ali o podem sentir e saber; um Outro que éramos nós ainda, mas tão transtornados, tão virados para fora de nós, tão esquecidos do mundo e de nós, tão eficazes, tão leais, nós boca com boca, corpo a corpo, um sexo torturando um sexo, mordendo-se devorando-se, numa febre de chegar ao fim depressa, ao esquecimento, ao repouso. Disseste: adeus e eu odiei-te logo nesse minuto, como te odeio agora, não por ti ou pelo teu corpo que já me esqueceu noutros que vieram depois, mas porque morri ali naquela palavra, -morri entendes? -, perdi-me numa grande confusão, esqueci-me de ser eu, fiquei roubado do meu passado.

Hoje, encontrarias um outro homem; havia de rir-me do teu corpo, da sua entrega ou das suas traições, de tu me dizeres: «Vem» ou «Adeus...», ou «Não quero...». Hoje, saberias quem fizeste com uma só palavra, conhecerias um outro homem, que é obra tua, minha segunda mãe! Hoje, havia de rir ou chorar, era a máscara do momento; mas diria: tanto faz..., tanto me faz... Sabia-o!

Luiz Pacheco, "Carta a Fátima", Plurijornal Soc. Editora

Pacheco em documentário

Diz o Fernando Alvim (que assistiu à antestreia do documentário) que Luiz Pacheco - Mais Um Dia De Noite é mesmo a não perder. Passa dia 22, às 22h30m na :2 e foi realizado por António José de Almeida, retratando a vida invulgar e de um escritor mais ignorado que verdadeiramente maldito.
Segundo consta, a montagem do documentário e a sequência dos depoimentos está bem conseguida, com o humor que caracteriza a obra de Pacheco bem presente na sua biografia. Nas palavras do realizador, comparados com Luiz Pacheco "Dali e os Sex Pistols são meninos de coro". A coisa promete, até porque parece não ter havido censura ao calão...

quinta-feira, julho 14, 2005

Os lobos nas paredes




Já está publicado em Portugal (pela Vitamina BD) este excelente livro (supostamente) infantil. Comprei a versão espanhola numa visita recente a Madrid e fiquei absolutamente deslumbrado. A ilustração é fabulosa e a narrativa de Neil Gaiman é muito bem conseguida. Apesar de ser dirigido preferencialmente a crianças, é um livro que pode interessar a todas as idades, num exercício de confronto com os nossos medos. Gaiman, de quem já conheciamos "O dia em que troquei o meu pai por dois peixinhos vermelhos", apresenta a história de uma menina que vive numa casa com os seus pais e o seu irmão e que começa a ouvir barulhos vindos das paredes. No entanto, cada vez que a protagonista conta o caso a alguém recebe a resposta inevitável de que "todos sabem que os lobos vivem dentro das paredes e se sairem tudo está perdido". É contra esta inevitabilidade e derrotismo que levam a família a perder a casa para os lobos que Lucy luta, mostrando o seu inconformismo quando todos assumem a derrota.
É mais um daqueles livros que os pais devem ler com atenção antes de decidirem contar ao filhos. Se não tivermos resolvido os conflitos interiores que o livro aflora, somos capazes de ser surpreendidos pelas perguntas "incómodas" dos mais pequenos.

Carapau de Corrida

Descobri a Carapau de Corrida no Chiado, no Natal de há dois anos e meio. Fiquei deslumbrado com as muitas coisas feitas pela Carmo Stichini e pelos artistas que ela apresentava. Roupas, brincos, postais, doces e tantas outras coisas que nos atiram para um imaginário de casa de bonecas.

Podem pedir a newsletter da Carapau de Corrida para ola@carapaudecorrida.com e ficam a conhecer as datas das actividades e dos ateliers. Iniciação ao FIMO, para crianças e adultos e bijuteria são algumas das propostas. Os próximos são:

Iniciação ao Fimo - Infantis
Monitor: Teresa Loya
Participantes: dos 06 aos 10 anos
Dias 20 e 21 de Julho
Das 16H00 às 19H00
Custo single: 50€ (materiais incluídos)
Custo irmãos: 45€ (materiais incluídos)
Descrição: Breve introdução sobre o Fimo e a bijutaria que se pode realizar a partir dele. Técnicas básicas, elaboração de uma peça de dificuldade mínima pré-definida e de outras livres.

Iniciação à Bijutaria – Alfinetes de Feltro
Monitor: Carmo Stichini
Participantes: 14 aos 114 anos
Dias 22 e 23 de Julho - Das 18H00 às 21H00 ou
Dias 27 , 28 e 29 de Julho – Das 19H00 às 21H00
Custo single: 50€ (materiais incluídos)
Custo irmãos: 45€ (materiais incluídos)
Descrição: Breve introdução sobre joalharia e bijutaria contemporânea. O feltro - o seu fabrico e utilização. Elaboração de uma peça pré-definida e de uma peça livre.

Dê uma vista de olhos por http://www.carapaudecorrida.com/.

Gulbenkian

Esta coisa das petições é sempre muito relativa mas no caso do Ballet Gulbenkian, mesmo com todas as explicações que vão sendo dadas, parece que se justifica e é urgente. Por isso cá vai o endereço da petição on line: http://www.petitiononline.com/bg05ext/petition.html.

Algarve cheio de contos

A partir de sexta-feira O Contador de Histórias assenta arraiais em Tavira, para animar a Feira do Livro local. Mas há mais oferta na zona do Algarve com os "Contos de Contrabando", com alguns dos melhores contadores portugueses e os fabulosos "Piratas de Alejandria".

E dizem os nossos amigos da Arca:

Se o rio Guadiana é três vezes rio, porque não havia de ter também três margens?
Expliquemos melhor: é três vezes rio por denominação. Na antiga língua dos Tartessos chamava-se “Iana” que significava “rio” (aí vai um); os árabes rebaptizaram-no com o prefixo “Guad” (rio), com o qual já lá vão dois (rio-rio); e finalmente, os cartógrafos ibéricos acrescentaram-no aos seus mapas como “rio Guadiana” (rio-rio-rio). E a partir daqui volta-se a formular a pergunta: porque não haveria de ter também três margens?
Além das duas margens conhecidas haveria, segundo os antigos, outra margem mais, não com praias de areia ou cheia de juncos, mas com uma forma mais imprecisa – ainda que por isso não menos real – a margem do centro do rio, a que suportou o passo das gentes, as inquietudes, as necessidades, os sonhos, os pesadelos, os fados e os fandangos durante décadas. A esta terceira margem, à sua história, aos seus habitantes, vai esta proposta como homenagem.

A ARCA, Associação Recreativa e Cultural do Algarve, em parceria com os Piratas de Alejandria (Sevilha) e com a chancela de Faro, Capital Nacional da Cultura, apresentam, nos dias 21, 22 e 23 de Julho “Contos de Contrabando - Festival de Contos da Terceira da Margem do Guadiana”
As sessões de contos decorrerão nas duas margens do Guadiana, em localidades raianas, portuguesas e espanholas, com histórias, experiências e vivências partilhadas. O festival pretende levar a subir o rio, passando por Vila Real de Santo António, Castro Marim, Alcoutim (em Portugal); e Ayamonte e Sanlúcar del Guadiana (em Espanha),.
O festival junta nomes sonantes do mundo da narração oral. Os contadores programados são oriundos dos dois países e trazem a sua magia e as suas histórias. São eles: António Fontinha, um dos mais conceituados narradores portugueses, com livros e discos editados, baseia o seu trabalho na oralidade tradicional portuguesa, de cuja riqueza é um pesquisador; Cristina Taquelim, verdadeira força da natureza, dinamizadora das Palavras Andarilhas em Beja, traz contos de todo o mundo; Tixa, uma jovem contadora algarvia, apaixonada pelas histórias tradicionais algarvias. De Espanha vêm os Piratas de Alejandria, mestres na arte de encantar pessoas com histórias.
Este é o elenco do “Contos de Contrabando – Festival de Contos da Terceira da Margem do Guadiana”. que pretende unir, numa terceira margem, as populações que nos vão acolher.

Contos de Contrabando - Festival de Contos da Terceira da Margem do Guadiana

Programa

Quinta Feira 21 de Julho
_______________________________________

Montegordo
11.00h Roda de Contos para Crianças Parque das Merendas
Isla Canela
12.00h Piratas de Alejandría
Praia

Vila Real de Santo António 22.00 Cristina Taquelim
Centro Cultural António Aleixo

Ayamonte
22.00 Piratas de Alejandría
Plaza del Ayuntamiento


Sexta Feira 22 de Julho
_____________________________

Castro Marim
19.00h Roda de Contos para Crianças Recinto da XXI Feira de Artesanato de Castro Marim

Castro Marim
22.00h Tixa Recinto da XXI Feira de Artesanato de Castro Marim


Sábado 23 de Julho
_____________________________

Alcoutim
11.00h Roda de Contos para Crianças

Sanlúcar del Guadiana
12.00h Piratas de Alejandría
Muelle del Puerto

Alcoutim
22.00h António Fontinha

Brevemente estará disponível mais informação em
www.arca-algarve.org/contosguadiana

quarta-feira, julho 13, 2005

Antecipação da Prova Oral

Afinal a ida à Prova Oral é nesta quarta-feira, depois das 19h. Uma alteração de última hora mas a matéria é a mesma...

terça-feira, julho 12, 2005

Filipe Lopes na tarde da Renascença

Continua o interesse pela "Oficina de Sobrevivência para Pais Contadores de Histórias". Hoje à tarde, depois das 15h30m, Filipe Lopes vai à emissão da Rádio Renascença para falar um pouco acerca desta actividade cuja próxima realização será em Tavira no próximo fim-de-semana.
Hoje também, ficou garantida a realização de um conjunto de sessões da "Oficina" na zona da Grande Lisboa, com datas e locais a revelar oportunamente. Boas notícias para aqueles que esperavam a actividade na capital. Para estar sempre informado acerca destas e de outras actividades não esqueça a subscrição da newsletter d'O Contador de Histórias: basta enviar um email para newsletter@ocontadordehistorias.com.

Prova Oral

Nuno Garcia Lopes e Filipe Lopes vão à “Prova Oral”, esta quinta-feira, 14 de Julho, na Antena 3. Depois das 19 horas, Fernando Alvim e Raquel Bulha vão estar à conversa com os fundadores do Grupo O Contador de Histórias. Histórias para adultos e a participação dos ouvintes são alguns dos ingredientes, num programa de rádio com humor garantido.

Já há FNAC no Algarve e O Contador está lá...

O acesso à cultura está mais facilitado para os lados do barlavento com a chegada da FNAC ao Algarve. No Algarve Shopping em Albufeira está disponível mais uma loja desta rede, onde se podem encontar os livros editados pel'O Contador de Histórias.
No entanto, as lojas não se limitam a a expôr e vender artigos e, conforme acontece em todas as FNAC's, o espaço é aproveitado para a realização constante de actividades culturais.
A convite da FNAC Algarve O Contador de Histórias vai levar no próximo domingo, às 11h30m, a “Iniciação ao conto de histórias”, uma oportunidade de aprender algumas técnicas de narração oral e de escolher os livros adequados para buscar inspiração.

Tendo por base o trabalho do Grupo O Contador de Histórias, os participantes vão entrar no mundo dos contos, descobrindo a linguagem, a ênfase e a abordagem ideal, através de exemplos práticos. Esta iniciativa, de participação livre, destina-se a todos os interessados em conhecer mais nesta área, sendo especialmente interessante para os pais que diariamente se vêem confrontados com a necessidade de contar histórias aos seus filhos. Nesta sessão poderão encontra uma selecção de livros adequados a diversas idades, bem como diversas “dicas” para tornar as histórias mais interessantes e dinâmicas.

A entrada é livre.

Feira do Livro de Tavira

A partir de sexta-feira O Contador de Histórias ruma a sul... Não é para férias, mas sim para animar a Feira do Livro de Tavira.

Aqui fica o programa das actividades que vamos desenvolver, no espaço junto ao Rio Gilão:

15 de Julho
- Histórias com bicho (espectáculo 3-12 anos) – Jardim do Coreto, 21h00
- Ser poeta (recital público em geral) – Jardim do Coreto, 22h30
Dia 16 de Julho
- Lua do mar (espectáculo 3-12 anos) – Jardim do Coreto, 21h00
- Isso não se pode ler em público (recital adultos) – Jardim do Coreto, “Bomboca”, 22h30
Dia 17 de Julho
- Oficina para pais contadores de histórias – Jardim do Coreto, “Bomboca”, 21h00
Dia 18 de Julho
- Porque é que as histórias têm bicho (oficina 3-12 anos) – Jardim do Coreto, 21h00
- Enamoramento, amor e outras coisas (recital público em geral) – Jardim do Coreto, 22h30
Dia 19 de Julho
- Ah, isto é que é poesia?! (recital público geral) – Jardim do Coreto, 21h00
Dia 20 de Julho
- A Sophia (recital, público geral) – Jardim do Coreto, “Bomboca”, 21h00
Dia 21 de Julho
- Histórias com bicho (espectáculo 3-12 anos) – Jardim do Coreto, 21h00
- Ser poeta (recital público geral) – Jardim do Coreto, 22h30
Dia 22 de Julho
- Lua do mar (espectáculo 3-12 anos) – Jardim do Coreto, 21h00
- Histórias politicamente correctas (apresentação de histórias, conversa; adultos) – Jardim do Coreto, 22h30
Dia 23 de Julho
- Uma história do teu tamanho (espectáculo 1-6 anos) – Jardim do Coreto, 21h00
- O poeta que ri (recital adultos) – Jardim do Coreto, 22h30
Dia 24 de Julho-
- Como é que os livros dão a volta à cabeça (oficina 4-15 anos) – Jardim do Coreto, 21h00


quinta-feira, julho 07, 2005

conversas com bonecos

É um excelente blog, que junta gente com muito de interessante para dizer e mostrar: escrever para o boneco é mantido por Alice Geirinhas, Carla Pott, André Letria, Dora Batalim, Eunice Rosado, Geraldo Valério, Manuela Bacelar e Marta Torrão.
Vale a pena dar uma vista de olhos e ficar atento à ilustração portuguesa.

NAVIO DE ESPELHOS



Falando da Livraria O Navio de Espelhos não podiamos deixar de lembrar o poema que lhe dá nome:


NAVIO DE ESPELHOS


O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
A sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

E no mastro espelhado
uma espécie de porta

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo

Mário Cesariny
(1923)
(in A Cidade Queimada, Assírio & Alvim, 2000)

parabéns navio



A Livraria O Navio de Espelhos, em Aveiro, está quase a comemorar o seu centenário... Por estes dias ficam a faltar apenas 98 para assinalar os 100 anos da livraria que não pára.

Aqui fica o programa das festas:

Sexta, 8 de Julho, 21:30

Leitura

O Livro dentro dos livros

pelo Grupo Poético de Aveiro

Espectáculo de homenagem ao livro e à leitura baseado em

textos de Fernando de LaFlor, Umberto eco, Erri de Luca, Manuel António Pina,

Jorge Luís Borges, Almada Negreiros, Whitman, Dietrich Schwnitz,

Alberto Manguel e João Pedro Mésseder.


bado, 9 de Julho, 18:30

Lançamento do livro

"A Lei do desejo"

de Ana Cristina Santos

Editora Afrontamento.

O livro será apresentado por Fabíola Cardoso


bado, 9 de Julho, 21:30

Recital de poesia

A Musa ao Espelho

com Alberto Serra e José Carlos Tinoco

nos claustros da Misericórdia

bado, 9 de Julho,23:00

Inauguração da Exposição

Fotografia

de Michael Bry


bado, 9 de Julho, 23:30

Contos e Poesia

com António Poppe e António Fontinha

festa do 2º aniversário da livraria

beberete na rua 31 de janeiro

Domingo, 10 de Julho, 18:00

Hora do Conto Especial

“Os melhores de todos os contos”.

Com Marta Condesso, Cláudia Stattmiller e Sónia Sequeira.

7/7

A bomba

A bomba
é uma flor de pânico apavorando os floricultores
A bomba
é o produto quintessente de um laboratório falido
A bomba
é estúpida é ferotriste é cheia de rocamboles
A bomba
é grotesca de tão metuenda e coça a perna
A bomba
dorme no domingo até que os morcegos esvoacem
A bomba
não tem preço não tem lugar não tem domicílio
A bomba
amanhã promete ser melhorzinha mas esquece
A bomba
não está no fundo do cofre, está principalmente onde não está
A bomba
mente e sorri sem dente
A bomba
vai a todas as conferências e senta-se de todos os lados
A bomba
é redonda que nem mesa redonda, e quadrada
A bomba
tem horas que sente falta de outra para cruzar
A bomba
multiplica-se em ações ao portador e portadores sem ação
A bomba
chora nas noites de chuva, enrodilha-se nas chaminés
A bomba
faz week-end na Semana Santa
A bomba
tem 50 megatons de algidez por 85 de ignomínia
A bomba
industrializou as térmites convertendo-as em balísticos interplanetários
A bomba
sofre de hérnia estranguladora, de amnésia, de mononucleose, de verborréia
A bomba
não é séria, é conspicuamente tediosa
A bomba
envenena as crianças antes que comece a nascer
A bomba
continua a envenená-las no curso da vida
A bomba
respeita os poderes espirituais, os temporais e os tais
A bomba
pula de um lado para outro gritando: eu sou a bomba
A bomba
é um cisco no olho da vida, e não sai
A bomba
é uma inflamação no ventre da primavera
A bomba
tem a seu serviço música estereofônica e mil valetes de ouro, cobalto e ferro além da comparsaria
A bomba
tem supermercado circo biblioteca esquadrilha de mísseis, etc.
A bomba
não admite que ninguém acorde sem motivo grave
A bomba
quer é manter acordados nervosos e sãos, atletas e paralíticos
A bomba
mata só de pensarem que vem aí para matar
A bomba
dobra todas as línguas à sua turva sintaxe
A bomba
saboreia a morte com marshmallow
A bomba
arrota impostura e prosopéia política
A bomba
cria leopardos no quintal, eventualmente no living
A bomba
é podre
A bomba
gostaria de ter remorso para justificar-se mas isso lhe é vedado
A bomba
pediu ao Diabo que a batizasse e a Deus que lhe validasse o batismo
A bomba
declare-se balança de justiça arca de amor arcanjo de fraternidade
A bomba
tem um clube fechadíssimo
A bomba
pondera com olho neocrítico o Prêmio Nobel
A bomba
é russamenricanenglish mas agradam-lhe eflúvios de Paris
A bomba
oferece de bandeja de urânio puro, a título de bonificação, átomos de paz
A bomba
não terá trabalho com as artes visuais, concretas ou tachistas
A bomba
desenha sinais de trânsito ultreletrônicos para proteger velhos e criancinhas
A bomba
não admite que ninguém se dê ao luxo de morrer de câncer
A bomba
é câncer
A bomba
vai à Lua, assovia e volta
A bomba
reduz neutros e neutrinos, e abana-se com o leque da reação em cadeia
A bomba
está abusando da glória de ser bomba
A bomba
não sabe quando, onde e porque vai explodir, mas preliba o instante inefável
A bomba
fede
A bomba
é vigiada por sentinelas pávidas em torreões de cartolina
A bomba
com ser uma besta confusa dá tempo ao homem para que se salve
A bomba
não destruirá a vida

O homem
(tenho esperança) liquidará a bomba.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, julho 05, 2005

Obrigado SIC

Por acaso (e é mesmo por acaso) a SIC dedicou ao Contador de Histórias duas referências nas últimas semanas. Primeiro foi a ida do Nuno Garcia Lopes ao programa "Páginas Soltas" da SIC Notícias, hoje passou a reportagem acerca da "Oficina de sobrevivência para pais contadores de histórias", a propósito da apresentação que fizemos na Biblioteca Municipal de Oeiras.
De resto aproveitamos para agradecer ao Filipe Leal, à Ana Guerreiro e a todos os técnicos da Biblioteca de Oeiras que nos acolheram com aquele carinho que só os que amam os livros têm.